Repensando Charlie Hebdo

Repensando Charlie Hebdo

por Anthony Freda

tradução: tarcisio praciano-pereira

Executa jornalista mas preocupa-se com a liberdade de opinião

Executa jornalista mas preocupa-se com a liberdade de opinião

Devo admitir que caí numa reação tribal e islamofóbica no caso do Charlie Hebdo.

Como qualquer um que cria imagens políticamente provocativas, o evento do Charlie Hebdo me pegou em cheio. A ideia de houvesse quem pudesse estar decidida a matar ou morrer em torno duma imagem estava acima da minha compreensão. Não há imagem que seja mais ofensiva do que a realidade da guerra e da tortura que o poder executa mas esconde de nós com a censura. (nota do tradutor: e  com o “velado”, “discreto”, apoio dos grupos indústriais que se encondem sob a capa da imprensa…)
Estão por aí aos milhares os que são intolerantes com as nossa tradições de sátira e que estão propensos ao uso da violência ou da coerção para impor suas visões medievais sobre nós, mas há outros aspectos que este evento puxa para  superfície e que de certa forma ficaram ignorados.
É claro que eu não sou o único que se sente ferido com a hipocrisia grotesca de líderes como Obama que aproveitam uma oportunidade como esta para dizer uma frase de efeito “a violência nunca pode ser a resposta”. Ele, Obama, está assassinando civis, mundo afora, e usa a violência em forma rotineira para atingir os seus objetivos, e diz “está tudo posto na mesa”. É claro que não sou o único que percebe a hipocrisia imensa dum presidente, sobre a liberdade de expressão,  quando usa o “Ato da Espionagem”, de forma muito mais intensa do que todas as administrações que o antecederam juntas, para silenciar os que se lhe opõem e mete nas prisões  os que jogam todos os seus direitos pessoais na ansia de expor os crimes do governo. Por exemplo eu não vi nenhuma marcha em apoio a John Kiriakou, a única pessoa que foi presa por expor o programa ilegal de tortura da C.I.A. e afinal ele expôs os crimes.
Quando eu vi Bibi na frenta da marcha em Paris, pelo Charlie Hebdo, eu me senti traído. Será que Bibi e Sarkozy teriam também estado na frente da marcha caso o Charlie Hebdo tivesse exposto as suas mentiras e seus crimes de guerra? A simples ideia de que Netanyahu, um crimonoso de guerra conhecido, assassino de jornalistas e um destruidor dos direitos humanos possa se preocupar com a liberdade de expressão  é uma violência para me passar goela a dentro. Ele, Netanyahu, tem uma preocupação intensa para consolidar o poder do Oeste sobre o Islamismo em sua definição de Israel como uma vítima permanente e em sua vitória de de conseguir com que o Oeste não reconhaça a Palestina. Ele, Netanyahu, é um oportunista que aproveitou o momento para promover a sua agenda. Ele, Netanyahu, não tem a menor preocupação com a liberdade de expressão
E quem se beneficiou com estes assassinatos?  O impacto maior do caso Charlie Hebdo foi de colocar na primeira página a agenda da guerra sem fim, da monitoração civil e do estado policial global. E olhem que este modelo já se encontra em função e nada fez para evitar o massacre!  Esta tragedia também tem sua parte no plano global para dividir a população e até mesmo impulsar os cortes ao longo dos aspectos religiosos e culturais fomentando os ódios tribais.
Também eu penso que Charlie Hebdo tinha uma obsessão por insultar a religião e usava um tipo de imagem pueril e racista num divisionismo desnecessário duma classe muito vã.  Ele atacava as religiões Abrahâmicas com um ar de brincadeira. Vou defender o direito que eles têm publicar o seu trabalho não importa o quão ofensivo seja. Eles têm o direito à liberdade de expressão e foi repulsivo que tenham  sido executados por exercê-lo, um barbarimo sem desculpas.
Apenas eu gostaria que eles tivessem usado o seu espaço para expor as mentiras dos dirigentes que na verdade buscam inflamar a guerra entre as civilizações, mas eles escolheram uma outra agenda.  De forma ostensiva e mesmo de acordo com a opinião estabelecida, eles eram campeões da liberdade de expressão, mas na verdade eles funcionavam como combustível dos fazedores de guerra. A questão toda não estava em branco e preto como inicialmente eu a vi, e começo a crer que há pouca esperança de que o embate entre civilizações venha a terminar em bom termo enquanto que a política do “divida e conquiste” e a hipocrisia sejam a regra do dia.
(nota do tradutor: e este tradutor também sente o mesmo e sintoniza bastante com este parágrafo)

Anthony Freda

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