Que é Matemática?
A derivada
Se uma função real de
variável real tiver retas tangentes ao seu gráfico numa vizinhança do
ponto , então dizemos que é diferenciável em e o
coeficiente angular da reta tangente ao ponto ,
designado com o símbolo , é a {\em derivada} de
no ponto .
A função que fornece o coeficiente angular da reta tangente ao
gráfico de no ponto se chama derivada de .
Deixe-me mostrar-lhe um gráfico e um programa escrito em gnuplot para que você possa
logo medir o poder da derivada. Tem um certo defeito o que vou fazer, de alguma forma
estou passando uma etapa, porque vou usar derivada sem discutir primeiro como
calculá-la, se você superar este defeito e fizer um uso positivo dele, ganhará em
motivação para aprender a calcular a derivada. Digamos que eu comece dizendo,
“observe o que é possível fazer se você souber calcular a derivada!”.
Os gráficos
mostram retas tangentes ao gráfico de e foram feitos com este programa
escrito em gnuplot:
- pow(x,n) = x**n; ## uma expressão melhor para potencia
- f(x) = pow(x,2) – x – 6; ## a equação da função
- df(x) = 2*x -1;## a derivada atualize se alterar f
- a = 2; A = df(a); B = f(a); ## o valor de a, A, B – troque apenas “a”
- r(x) = A*(x-a) + B ## a reta tangente
- plot f(x), r(x), 0 ## comando para fazer gráficos
Se você souber calcular a derivada de uma função pode imediatamente usar este programa
para fazer gráficos de funções. Raspe, cole, e se divirta!
Observe que é a equação de uma reta apenas os coeficientes
foram calculados
usando , o coeficiente angular da reta foi calculado usando
a derivada de . Este
é o significado da derivada: é coeficiente angular instâneo do
gráfico de no ponto .
A equação
da reta tangente ao gráfico de no ponto se deduz direto
da equação da reta que passa no ponto e tem coeficiente angular
(eq 1)
(eq 2)
que é a expressão do polinômio de Taylor do primeiro grau desenvolvido no
ponto .
Para que você entenda melhor esta questão do coeficiente angular
instantânneo um exemplo da Física é bem instrutivo. Considere a seguinte
situação representada na figura abaixo:
Neste gráfico estou simulando o que
aconteceria se eu estivesse rodando uma pedra presa a um cordão que,
num determinado instante se quebrasse.
A pedra, enquanto presa à minha
mão pelo cordão, em movimento, muda de direção a cada instante. Mas quando
o cordão se quebra ela se mantem numa direção fixa, a da tangente. Obviamente
que em seguida ela vai mudar de direção porque passa a ficar presa à Terra
pela força de gravidade. Mas, se não houvesse a força de gravidade, então,
sim, ela seguiria por uma reta – movimento uniforme não acelerado como
diz a Física.
A verdade é que, em todo o Universo, não existe um só corpo em
movimento uniforme não acelerado, todos os corpos sofrem a ação da
gravidade dos outros corpos no Universo e assim em todo o Universo não
existe uma única reta… mas na Geometria Euclidiana existem retas e disso
é que estou falando para discutir a derivada. Observe que neste simples
exemplo, estou mostrando que Geometria Euclidiana, que parece tão concreta,
na verdade é uma grande abstração da mente humana.
Retornando à figura da pedra presa ao cordão, o coeficiente angular da reta
que alí aparece, é a derivada do círculo naquele ponto. Você pode ver logo
aqui um método geométrico para o cálculo de derivadas:
- coloque uma regua
tangente ao gráfico de no ponto ; - e calcule o coeficiente
angular, , desta reta; - .
Outra vez usando gnuplot, com os comandos abaixo, que você
pode raspar e colar num terminal do {\tt gnuplot},
- f(x) = (x+3)*(x-5)*sin(x/5.0);
- df(x) = (x-5)*sin(x/5.0) +\
(x+3)*sin(x/5.0)+0.2*(x+3)*(x-5)*cos(x/5.0); - P(x) = f(a) + df(a)*(x-a)
- a = 4;
- plot f(x),P(x),0
você pode repetir a figura abaixo na qual está representada a reta tangente
ao gráfico de no ponto
.
Apenas trocando valor de
você pode obter
gráficos de outras retas tangentes ao gráfico desta mesma função ou outra
de sua escolha (redefina e no programa), escolha distintos valores
para e repita o comando plot
para ver tangentes em diversos
pontos do gráfico. Basta trocar o valor de e repetir o comando
plot
Por exemplo, raspe e cole num terminal do gnuplot
este programa:
- f(x) = (x+3)*(x-5)*sin(x/5.0);
- df(x) = (x-5)*sin(x/5.0) +\
(x+3)*sin(x/5.0)+0.2*(x+3)*(x-5)*cos(x/5.0); - P(x) = f(a) + df(a)*(x-a)
- a = -4;
- plot f(x),P(x),0 ;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
- a = -2;
- plot f(x),P(x),0;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
- a= 0;
- plot f(x),P(x),0 ;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
- a= 1;
- plot f(x),P(x),0 ;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
- a= 2;
- plot f(x),P(x),0 ;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
- a= 3;
- plot f(x),P(x),0 ;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
- a= 5;
- plot f(x),P(x),0 ;
- pause -2 “Aperte enter para continuar”
e você vai ver sucessivos gráficos de retas tangentes ao gráfico
da função
Até este momento adotei um ponto de vista que pode ser constrangedor para você, leitora.
Estou usando a derivada, e supondo que você já sabe derivar,
mas eu lhe pedi que
aceitasse esta forma de comunicação com paciência, e agora vou mostrar-lhe o caminho
para aprender a derivar.
De qualquer maneira acho que vale a seguinte observação: se você fizer a Matemática
certa e conseguir traduzí-la corretamente para uma linguagem de programação então
você vai apreciar a Matemática acontecendo computacionalmente. Em minhas
pesquisas em Matemática eu uso com frequência este método, escrevo equações, traduzo-as
numa linguagem de computação, se aparecer o que espero é porque acertei! Assim testo,
computacionalmente, a Matemática que eu estiver fazendo.
Vou ser resumido do contrário eu iria escrever um capítulo do
livro de Cálculo, e não é este o objetivo aqui. Você pode ler o livro de Cálculo na
biblioteca, aqui estou apenas tentando estimulá-la a fazer isto.
A definição da derivada para funções reais
A derivada mede uma taxa de variação instantânea, portanto um cálculo de
limite. Mas deixe-me começar do começo, taxa de variação quer dizer
um quociente de diferenças que você pode ver indicado no gráfico
na figura (fig. 4).
O quociente entre duas diferenças:
(eq 3)
é a tangente do ângulo no triângulo retângulo que você pode ver na
figura (fig. 4).
Mas eu quero o coeficiente angular da
reta tangente no ponto que é .
Se a curva fosse
a tragetória de uma nave a liberar no ponto um foguete,
este foguete seguiria pela reta tangente com coeficiente angular .
É uma situação semelhante a da pedra presa ao cordão que se quebra na
figura (fig. 2).
Eu vou agora mostrar-lhe o cálculo deste limite.
Dada uma função podemos aplicar-lhe o operador diferença
caracterizado pelo símbolo , seguido do operador
quociente para o qual não há um símbolo padrão.
A sequência
de operações é esta:
(eq 3)
(eq 4)
(eq 5)
Se soubermos o significado da última linha, calculamos a derivada. Para
“decifrar” a última linha algumas vezes é preciso muito prática.
Entretanto, salvo alguns casos muito especiais que inclusive são chamados
de limites notáveis a grande maioria dos casos simples do dia-a-dia
são resolvidos com as regras de derivação descritas abaixo e mais um
banco de derivadas conhecidas, e alguma prática de
cálculo…
Um exemplo simples
A derivada da função é e vou calcular
esta derivada usando quociente de diferenças seguido do limite. Acompanhe
a sequência de operações para a qual vou fazer uma legenda em seguida, e você
pode saltar da legenda para a sequências de operações para procurar entender
as passagens.
(eq 7)
(eq 8)
(eq 9)
- Na equação (eq. 7) calculei a diferença com auxílio
do triângulo de Pascal, confira no triângulo
a linha de ordem 3,
cancelei o termo em quando subtrai ; - Na equação (eq 8)
calculei o quociente de no ponto
com a diferença . No quociente
as potências de cairam de uma unidade, ficando
um termo livre de . - Na equação (eq. 9)
calculei o limite de quando
que neste caso é simples,
os termos que tem se anulam. Resta o termo que
não tem com
a conclusão .
Para todas as funções polinomiais é assim simples, o cálculo vai ter mais
termos e ficar um pouco mais complicado de fazer
a redação, mas tem alguns
truques redacionais que vou mostrar-lhe.
Considere apenas e confira que é semelhante ao caso acima.
- A diferença é calculada com a linha de ordem
do triângulo de Pascal
que começa com
seguido de
e termina com .
Coloque reticências no
meio que é tudo “irrelevante”. Se convença! - Quando calcular
vai se cancelar o termo de maior grau,
em ficando de
e terminando com .Coloque reticências no
meio que é tudo “irrelevante”. Se convença!
- Quando calcularmos o quociente
caem de uma
unidade todas
as potências de ficando
de e terminando com .
Coloque reticências no
meio que é tudo “irrelevante”. Se convença! - Todos os termos, exceto o primeito,
se anulam.
Conclusão:
que é a regra de derivação da enésima potência.
Logo você vai ver as
regras de derivação, abaixo, e como calcular a derivada de um polinômio
qualquer.
O cálculo da derivada
A derivada não é uma operação aritmética, ela é o resultado da aplicação do
operador limite a uma sucessão de quocientes de diferenças}
isto torna pouco provável que
se consiga implementar a derivação em Computação Algébrica, ou seja
“calcular a derivada automáticamente com um programa de cmputador”.
Você pode ver facilmente que procede o que foi dito no parágrafo anterior
analisando as contas que fiz para determinar a derivada de .
Observe a passagem da equação (eq. 8)
para a equação
(eq. 9). Não foi uma passagem algébrica, houve um salto
lógico que se traduziu na frase “todos termos que contém se anulam exceto
o primeiro”. Este raciocínio não é algébrico, nós apenas sabemos dizer que
aplicamos o operador limite . Sabemos fazer este cálculo,
mas não sabemos traduzí-lo com um algoritmo o que torna impossível, no momento
pelo menos, traduzir esta passagem para um programa de computador.
Ainda
assim os programas de Computação Algébrica conseguem calcular
derivadas de forma mais efetiva que o humano ao aplicar as regras
do Cálculo para diferenciação que se podem resumir nas seguintes:
- A derivada de uma função constante é zero.
- Se uma função for linear ela é a sua própria função linear tangente
portanto a derivada de uma função linear é ela mesma; - derivada da soma:
Se e forem deriváveis, então é derivável e
Esta é a regra que se aplica ao cálculo da derivada duma função polinomial
qualquer que é uma soma de monomios da forma cujas derivadas
eu calculei nos exemplos. Os monômios estão multiplicados pelo número
e se aplica a regra do produto por um número descrita abaixo. - derivada do produto: se forem duas funções diferenciáveis, então
- caso da multiplicação por um número: está contido na primeira regra
e na regra
da derivada do produto, mas merece destaque. Se for um número,
e se
for derivável, então .
Aplique a derivada do produto e você verá
que obtém esta regra. - derivada de funções polinômiais:
a derivada de é para funções reais de
variável real (ou complexa). É uma
aplicação direta do operador diferença ao monômio $f(x) = x^{n}$ seguido do
cálculo do limite. - Para um polinômio qualquer se aplica a regra da soma de derivadas.
- derivada da
na última equação tanto o numerador como denominador têm limite e o limite do
denominador é diferente de zero então podemos aplicar o operador limite
tendo por resultado - derivada do quociente quando não se anular no ponto ,
então numa vizinhança de - s regra da cadéia, a derivada da função composta,
que se forem duas funções
diferenciáveis e se a composta
existir então
A regra da cadeia se aplica ipsis literis em qualquer dimensão em que
as compostas estejam definidas.
Estas regras junto com um banco de derivadas conhecidas permitem que os
programas de Computação Algébrica calculem derivadas de forma muito
mais efetiva que o ser humano sugerindo a existência de inteligência
artificial.
Uma alternativa à Computação Algébrica é a diferenciação algorítmica que tem
conseguido alguns avanços,
mais ainda não se pode comparar com as
possibilidades da Computação Algébrica, e como esta, esbarra no salto
lógico entre operações aritméticas e operador limite.
Dois exemplos, um deles difícil
- Uma derivada difícil: ;
Esta
derivada é obtida uma uma desigualdade geométrica e mais algumas
propriedades do limite. -
Mas ;
-
; então podemos calcular usando
uma propriedade da trigonometria, junto com a derivada do .
A sequência de cálculos é a seguinte:(eq 6)
(eq 7)
(eq 8)
(eq 9)
(eq 10)
(eq 11)
Esta é uma breve descrição da metodologia com que os programas de
Computação Algébrica calculam derivadas e
consequentemente também integrais, ou seja apenas eles representam uma
automatização dos métodos que nós, os humanos, usamos para calcular
derivadas, e conseguem fazer o trabalho com muito mais rapidez e sem os
erros que os humanos frequentemente cometem…
Que é mesmo a derivada?
A derivada não é exatamente um número, o caso univariado é enganador.
A comparação da derivada de funções univariadas com a jacobiana das funções
multivariadas levou a uma generalização do conceito de derivada. Observe
como isto foi feito, obviamente, olhando depois que tudo aconteceu\dots Quem
nos dá o fio da meada é a derivada implícita. Se for
diferenciável então podemos obter, derivando implícitamente:
(eq 17)
(eq 18)
Na equação (eq 18)
deduzi da equação (eq. 17)
um produto de matrizes em que aparecem as extranhas variáveis
nas quais não há nem nem e nem .
Isto é uma outra história que
criou um tremendo drama na Matemática numa tentativa de explicar o que
seriam os infinitesimos com que os matemáticos até o início do século
20 identificavam os símbolos .
Para entender como o drama foi resolvido, vou derivar implicitamente, coisa
que ninguém faz, uma função univariada: . Para fazê-lo escrevi
a função univariada de forma implícita
(eq 19)
Se considerarmos o ponto do gráfico da função diferenciável
podemos obter da equação (eq. 19) a equação
da reta tangente ao gráfico da função no ponto
(eq 19)
(eq 20)
(eq 21)
um novo produto de matrizes surge na equação (eq 21).
Apenas agora uma matriz que se identifica com um número.
Matrizes são identificadas com funções lineares e é o coeficiente
angular da reta tangente ao gráfico de no
ponto .
Com isto resolvemos o significado das variáveis extranhas, agora
no caso univariado. Quando derivamos encontramos o modelo para
o objeto linear tangete, não o próprio objeto linear tangente. Então a
derivada é uma função linear que serve como modelo para o objeto linear
tangente. Observe o gráfico na próxima figura
Podiamos ter feito dois gráficos, um num espaço identificado pelas variáveis
e outro onde se encontra o gráfico de . Simplesmente não
precisamos de infitesimais, são os nomes de duas variáveis em
relação ás quais represntamos a função linear tangente em parte devido a um
defeito de linguagem e comunicação porque é complicado falar da função
linear e mais natural falar da função linear que associa à variável
a sua imagem . Então, como
(eq 22)
(eq 23)
a derivada é uma função que associa a cada ponto do domínio uma função
linear cujo gráfico é paralelo ao gráfico da reta tangente, no caso
univariado ou em qualquer outra dimensão finita.
Esta formulação está pronta para a generalização para espaços de dimensão
não finita. O Cálculo que fazemos com espaços de dimensão finita pode ser
generalizado para os espaços abstratos, no caso dos espaços vetoriais
normados praticamente podemos repetir as relações existentes nos livros
de Cálculo evitando as questões dimensionais, e Henri Cartan escreveu, na
década de 60, um livrinho intitulado Calcul différentiel
em que no título, ele nada sugere que os espaços de base são
espaços de Banach.
.
É isto que é a jacobiana de uma função multivariada, a função linear que serve
de modelo para a variedade linear tangente ao gráfico de uma função
diferenciável em cada um dos pontos de seu gráfico. O nome jacobiana surgiu
pela falta de claro entendimento do que seria o conjunto de derivadas
parciais
que aparecem quando derivamos uma função multivariada e que a derivada implicita,
claramente, mostra que se trata de uma função linear sendo a jacobiana
a matriz da mesma.
E os infinitésimos? como muita coisa em ciência, foi
trabalho perdido e muita pesquisa feita para justificá-los até mesmo
sendo criada uma teoria complicada de expansão dos números reais onde eles
aparecem.